Tuesday, January 09, 2007

Se tem luar no céu, porque não tomamos a saideira?

Chovia, e eu encostado na porta do bar:
- Puta que pariu! Que chuva da porra!!!!
O pessoal ria às pândegas. Já se dispunham ao primeiro trago.
Convencido e consternado, fui pro balcão.
- Ô Xavier !!! – todo garçom tem cara de Xavier – trás duas “breja” da mais barata!!!!
E o cara de telha grosseiramente:
- Tem que pagar na hora!
Dei-lhe o valor e voltei pra mesinha onde já estávamos todos alojados e apertados na porta do bar.
E as “brejas” foram chegando...
Numa mesa um cara chupava o próprio dedo lambuzado de galinha frita, seu tira - gosto.
Numa outra uma puta chupava o dedo de um velho aparentemente excitado.
- Cada um com sua “nóia”! – pensei.
Foi num estampido interrompendo a minha reflexão que entrou no boteco o professor com cara de Luciano, - que que eu posso fazer seu eu não tive oportunidade de descobrir seu nome e, outra, o cara tinha mesmo cara de Luciano, e de professor – chegou todo encharcado, com os livros pingando e as entradas da careca úmidas e brilhantes. Ele era uma figura deplorável, uma visão do inferno!!!
Por um instante o bar parou para observar e logo depois, voltou o caos natural que é pertinente a esse ambiente, principalmente, quando na periferia de uma grande metrópole.
O professor pingava, pingueira de chuva e pingueira de suor. Pude perceber seu sobretudo e sua calça sujos de terra e grama...
Minha “breja” parecia café de tão quente e o desejo de chacoalhar a binga me impelia ao cubículo semi-oculto no fundo do bar. O professor estava curvado, resmungando palavras incompreensíveis e com os livros encharcados aos pés quando cruzei com ele na direção do mictório.
Naquele cubículo fétido e sufocante, quase uma masmorra medieval, o prazer era quase que inenarrável:
- Ahhhhhhhhhhh!!!!! – exclamei extasiado, chacoalhei e sai pela porta, o professor ainda gemia, só que agora sua palidez o aproximava do fantasmagórico e seu corpo tremia.
Sentei novamente na mesa, e o povo:
- Porra lá em casa ta foda!!!
- Quem é ela? Diga! Diga logo!!
- Hum!!! Aí que gostoso!
- Chupa aqui!!!!! (Mostrando o dedo obsceno...) Cê ta doido!?!?!?
- Puta que pariu...
- Essa questão é extremamente paradoxal...
- Reunião... com o chefe... porquê você nunca acredita?
As sextas feiras são sempre assim, eufóricas e imprevisíveis. Todo tipo de gente nos bares depois do expediente, preparando uma farra, afogando as mágoas, saindo da aula...
Ah!!!! E o professor!!!!!
Figura esquisita, em minha mente era quase sobrenatural, suas orelhas pontiagudas, mãos peludas, curvado e resmungando palavras desconhecidas numa sexta-feira chuvosa dentro de um boteco fodido do subúrbio.
Xavier – o garçon, todo garçon tem cara de Xavier – o observava com desprezo e desconfiança.
Lá fora a chuva aliviava, nós nos dirigimos à rua e para minha surpresa a noite se abria revelando uma brisa refrescante.
Fomos saindo e eu pude pela última vez dar uma olhadela no professor com cara de Luciano, ele estava babando, a noite estava agradável e a lua cheia estava lá, bonita no firmamento.


Alisson Lima Em: 19/10/2001

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